SOBRE HISTÓRIAS DE FADAS – J. R. R. TOLKIEN

“A Fantasia é uma atividade humana natural. Certamente ela não destrói, muito menos insulta, a Razão; e não abranda o apetite pela verdade científica nem obscurece a percepção dela. Ao contrário. Quanto mais aguçada e clara for a razão, melhor fantasia produzirá”. 


•SINOPSE•

O que são histórias de fadas? Qual a sua origem? Para que servem? Em seu ensaio de 1939 “Sobre Histórias de Fadas”, Tolkien parte dessas questões para formular sua própria teoria a respeito da fantasia. O escritor usa seu conhecimento acadêmico para demonstrar que as histórias sobre fadas têm um caráter mágico e mítico, e demonstra como essas histórias dizem não somente sobre um mundo fantástico, mas também sobre a nossa própria realidade. Esse ensaio é um dos elementos fundamentais para entender muitos dos pensamentos e das inquietações que levaram à criação do universo fantástico tolkieniano.

Outra chave para a compreensão desse universo é o conto “Folha por Niggle”, publicado originalmente em 1945, que completa esta edição. Considerado uma alegoria da vida do escritor e de sua relação com a obra-prima que estava criando, “Folha por Niggle” narra a história de um pintor que, obcecado por transpor para a tela a sua visão, se vê constantemente impedido de fazê-lo, seja pelos contratempos do dia a dia ou pelas convenções sociais.

Juntos, os dois textos reunidos neste livro, ajudam a esclarecer as razões e motivações que levaram um respeitado professor de Oxford a passar mais de meio século criando um mundo imaginário que prima não somente pela fantasia exuberante, mas também por sua complexidade e coerência interna.


J.R.R. Tolkien criou uma mitologia, um mundo e deixou um legado. É espantoso imaginar como e de onde Tolkien tirou inspiração para um universo tão complexo e tão encantador, “Sobre histórias de fadas” nos dá uma ideia, o livro contém um ensaio fundamental para compreender suas técnicas de escrita, como e em que circunstâncias foi criado seu universo em uma visão muito particular sobre literatura e fantasia.

Neste ensaio, Tolkien vai discorrer sobre as bases do “conto de fadas”, e vários contos são utilizados para exemplificar uma observação ou até mesmo para ressaltar algum aspecto da abordagem de outros autores, desde as adaptações infantis dos contos dos irmãos Grimm até os mitos nórdicos do Edda.

SOBRE HISTÓRIAS DE FADAS

“Sobre histórias de fadas” é uma análise dos contos de fadas sob uma perspectiva bem acadêmica, filosófica, mas também bem pessoal de Tolkien acerca dos contos de fadas. Ele define alguns conceitos sobre fantasia ao abordar a origem do elemento da literatura fantástica, e o que se levar em conta no processo de criação de um livro sobre fadas.

Segundo Tolkien, histórias de fadas é aquela que se utiliza do “Belo Reino”. O Belo Reino é uma terra perigosa cheia de armadilhas para os incautos e calabouços para os audazes.

“Por ora só direi isto: um “conto de fadas” é aquele que toca ou usa o Reino Encantado, qualquer que seja seu propósito principal, sátira, aventura, moralidade, fantasia.”

Ao se conceituar o gênero “contos de fadas” explicando suas principais características, ele busca responder as seguintes questões: o que são histórias de fadas? Qual é a sua origem? Para que servem?

Tolkien aponta as diferenças existentes entre contos de fadas, contos sobre fadas e fábulas, e aponta erros cometidos por aqueles que escrevem fantasia e quebram o “encanto” dos seus mundos secundários e a complexidade envolvida na criação.

Ele nos alerta que embora o nome seja histórias de fadas, boa parte destas histórias não tratam daquelas fadinhas com asas diminutas, mas do povo élfico e de outras criaturas tão boas ou tão perigosas, de que trata a origem do elemento fantástico. Dessa forma, é possível criar o “mundo fantástico”, pois as histórias de fadas são fáceis de serem imaginadas e quando abrimos os horizontes, o “Belo Reino” se revela como se ele já estivesse escondido dentro da própria linguagem.

“Na verdade, a associação entre crianças e contos de fadas é um acidente de nossa história doméstica. No mundo letrado moderno os contos de fadas foram relegados ao “quarto das crianças”, assim como a mobilha velha ou fora de moda é relegada à sala de recreação, porque os adultos não a querem”.

Ao discutir sobre a natureza dos contos de fadas, Tolkien resgata o gênero que muitos pretenderam classificar como literatura infantil, mostrando que os contos de fadas são feitos principalmente para os adultos do que para as crianças, e explica que os contos de fadas não precisam e muitas vezes não devem terminar com “e viveram felizes para sempre”…

FOLHA POR NIGGLE

A segunda parte do livro é um pequeno conto intitulado “Folha por Niggle”. Publicado originalmente em 1945, conta a história de Niggle, um pintor que precisa fazer uma longa viagem da qual não poderia escapar e portanto precisava terminar a pintura de um quadro, que considerava sua obra-prima, mas nunca tinha tempo para fazê-lo, devido às muitas interrupções do dia a dia, ora de pessoas que vinham pedir favores, ora atrapalhado pelo vizinho que sempre pedia ajuda.

“Seja como for, vou terminar este quadro, meu verdadeiro quadro, antes de precisar partir nessa infeliz viagem”, costumava dizer.

Extremamente perfeccionista, Niggle demorava muito pintando uma única folha, tentando capturar suas características da forma mais verossímil possível. Quando um dia é surpreendido pela viagem que haveria de fazer e sem preparativo nenhum, teve que ir embora.

É um conto leve, mas de certa forma complexo, além de ser tido como uma metáfora da vida de Tolkien, muitas pessoas acreditam que há uma relação do conto com sua própria história, o que faz bastante sentido, pois acredito que ele retrata muito do que Tolkien sentia enquanto criava a mitologia de “O Senhor dos Anéis”.

“Ele (subcriador) faz um Mundo Secundário no qual nossa mente pode entrar. Dentro dele, o que ele relata é ‘verdade’, concorda com as leis daquele mundo. Portanto acreditamos, enquanto estamos por assim dizer do lado de dentro.”

Esta edição da editora Conrad contém uma introdução do próprio Tolkien e possui uma diagramação bem simples, com notas finais, que explicam as breves notas dos cantos das páginas no interior do livro no texto do ensaio. A capa é bem bonita, em tom verde musgo, com um desenho de uma árvore em relevo dourado, o que dá um bonito contraste.

 


Livro: Sobre histórias de fadas

Autor: J. R. R. Tolkien

Editora: Conrad

Páginas: 120 páginas

Nota: 4/5