O CIRCO MECÂNICO TRESAULTI – GENEVIEVE VALENTINE

“Respeitável público, sejam bem-vindos ao incrível Circo Mecânico Tresaulti, o lugar para quem acredita no mundo mágico que nos rodeia. Permita-me conduzi-lo por uma viagem única através da luz e das sombras onde descobriremos juntos uma nova forma de ver tudo e a todos. Onde não existe limite entre o picadeiro e a plateia, onde tudo é real e o único limite é a nossa vontade de sonhar.”


SINOPSE

Em pleno cenário pós-apocalíptico, O Circo Mecânico Tresaulti ergue sua lona e dá início ao grande espetáculo. Ambientado sobre a perigosa superfície de um mundo devastado, cheio de bombas e radiação remanescentes de uma guerra pela qual todos já saíram derrotados, este belo romance nos apresenta uma caravana circense em eterna viagem através de muitas cidades sem país, região ou rota definida. Lugares que podem não mais existir quando o circo retornar.

Aqueles que se juntam ao circo procuram segurança, trabalho sem risco de vida ou apenas uma nova forma de recomeçar. E seguir adiante, apesar de tudo…


Isso é o que acontece quando você termina de ler O Circo mecânico Tresaulti: você não sabe o que pensar

Ler O Circo Mecânico Tressaulti, é uma experiencia de leitura desafiadora, que vai despertar sentimentos ambíguos de confusão e frustração…

O começo do livro é bem confuso, bastante confuso pra ser sincero, primeiro, ao se intercalar o narrador sem prévio aviso, entre 1ª e 3º pessoa, muitas vezes não conseguia entender como o narrador ao mesmo tempo estava sendo narrado, e me sentia perdido e um pouco frustrado com relação a isso, segundo, os capítulos se intercalando, entre o passado, e o presente, e da mesma forma sem aviso prévio o que me fez várias vezes voltar ao parágrafo anterior para tentar entender o que se passava.

E eu não sei até que ponto isso foi um recurso da autora, até que ponto foi intencional, essa narrativa, essa construção literária pouco usual de alternância de vozes e tempo verbal sem nenhuma menção, isso me desconectava um pouco da história, mas o fato é que o circo mecânico não é nada convencional.

Como disse, em muitos momentos, pensei que era só mais um livro bonito, pois a escrita não me empolgava, a leitura começou a ficar bem arrastada e, precisei de quase 200 páginas para ver que apesar de no fim ficar aquela sensação de que faltou algo, é um livro muito bom, talvez até numa leitura mais aprofundada um pouco poético, porque não?

E tudo graças a chegado do homem do governo, é quando o livro começa a ter uma dinâmica que até então estava carente, o livro flui, deixa de ser uma história arrastada e se torna atrativa, como um grande circo apresentando suas atrações preparando-se para o “gran finale”!

Os integrantes do circo, são pessoas cheias de conflitos, e de todo o tipo que você possa imaginar, pessoas simples, ladrões, assassinos, não importa, desde que você tenha algum talento, e passe no teste, você é bem-vindo.

Mas para viver no circo, você precisa morrer, sim, todos que queiram e aceitam entrar no circo acabam sendo modificados abandonando uma parte da sua humanidade, criando assim “magníficos seres mecânicos pós-humanos” – repletos de complexas engrenagens, placas de ferro, pétalas de cobre, pulmões de relojoaria, rodas e pistões –, cada um trazendo para o circo algo nunca visto e sentido antes, pois é disso que se trata o circo.

Apesar disso, o mundo em guerra retratado no livro, não é tão enfatizado ou tão descrito, é dito apenas que há muitos lugares destruídos e que existe um novo governo, há menção ao mundo antigo numa das repentinas passagens de tempo.

Alguns personagens são cativantes, poucos na verdade, com a maioria não houve empatia alguma, pois suas relações com outros membros são frágeis ou pouco exploradas, em muitos dos flash-backs, são mostradas situações que aconteceram, e pessoas que não estão mais no circo, são nos apresentados. (curioso notar que um dos personagens mais interessante (para mim), o Alec, ou  homem alado, já está morto, e só aparece nessas alternâncias de tempo.

Além dele, vale mencionar também:

Elena, uma das trapezistas e a líder delas, extremamente talentosa, tirana e sincera, a quem todos ou temem ou odeiam, e ao meu ver uma personagem muito forte;

Little George, um dos únicos do circo ainda totalmente humano que herda o poder de Boss, e que as vezes se faz de narrador da história;

Boss, a líder, e dona do circo, possui um estranho poder de reviver ou tirar a vida de alguém dependendo do tempo que a pessoa esteja morta, ainda que o circo seja Boss, e que Boss seja o circo, ela ainda é um mistério, temos um flash back de sua vida anterior, e muitas dúvidas a respeito dos seus poderes, pois em nenhum momento é explicado como o possuiu, ou como o refinou, é dito também que ela tem uma tatuagem de grifo que aparenta estar vivo e tem alguma relação com seus poderes.

O homem do governo, merece uma atenção a mais, um dos melhores personagens da obra, e o responsável por dar vida ao livro. Sempre que aparece sente-se uma certa apreensão, ele é o “típico ditador” inteligente, frio, que maquia a tirania com benfeitoria, com a motivação de construir um mundo melhor, planeja e trabalha aos poucos para fazer um mundo à sua imagem, e seu ideais de reerguer as glorias do mundo antigo.

Ao descobrir ou (redescobrir) o circo se impressiona e passa então a tentar descobrir o segredo de Boss para criar um exército indestrutível…

Não tem como negar que as situações em que o Homem do Governo e Boss estão em cena são sempre cheias de bons diálogos, com alusões a manobras políticas que guia a narrativa para uma situação de embate entre as motivações de cada personagem e de como eles veem o mundo.

Acho porém que faltou algo de linearidade, algo mais direto em determinados momentos, pois peca nas suas explicações e por vezes ausência delas, e muitas coisas ficam sem explicação, e são pouco aproveitadas…

A edição brasileira, conta com ilustrações lindas de Wesley Rodrigues, (mostradas ao longo dessa resenha), que enriqueceu e deu vida ao livro e ajudaram na visualização de como seriam os personagens, e não imagino como seria o livro sem elas, simplesmente perfeitas.

Acho que nem preciso falar do capricho da Darkside com suas edições, pois isso já é intrínseco dela, e só tenho reverências…

 

“É o que acontece a algumas pessoas, senhor. Não dá para prever como a loucura cairá sobre você”.


Livro: O Circo Mecânico Tresaulti

Autor: Genevieve Valentine

Editora: DarkSide Books

Páginas: 320

Nota: 3/5